quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Sabores da Amazônia


            Quando se fala em cozinha amazônica, o que te vem à cabeça?  Índios em volta de uma fogueira cozinhando peixes em suas próprias lanças? Em primeiro lugar, vamos parar com essa bobagem de generalizar. No Rio de Janeiro não tem só favela e o Projac, na Bahia não tem só acarajé e gente preguiçosa e na Amazônia não tem só índios. Ok, 98,61% das terras indígenas estão lá, mas o estado é enorme, é o maior do Brasil em extensão territorial, é evidente que não se limite às reservas. Sem contar que sem dúvida a culinária indígena vai muito além de peixes sem tempero, sobretudo com a riqueza de ingredientes disponíveis na mata.
            A cozinha amazonense tem em sua base, castanhas, peixes, camarões miúdos, mandioca, pimentas e ervas perfumadas, isso graças aos rios e às florestas densas da região. São peixes como o tucunaré e o pirarucu, preparados de diversas formas. O pungente tucupi, que é um caldo extraído da mandioca-brava, e a farinha extraída da mesma mandioca. Os pratos são simples, mas os ingredientes usados em seu preparo os tornam extremamente saborosos.
            E mesmo quem não é, nem deseja ser um chef, pode conferir a riqueza de ingredientes amazônicos em cruzeiros pelo rio Negro ou pelo rio Solimões.  Nessas viagens você pode pescar piranhas, observar botos e jacarés e aproveitar pra apreciar um pouco dos sabores locais. Uma aventura e tanto, não é mesmo? A bordo o cardápio mescla os sabores da floresta e receitas clássicas, devido ao número de turistas. Os navios são abastecidos em Manaus com peixes, frutas e legumes frescos, e ainda ingredientes em conserva. Entre os pratos favoritos está a costelinha de tambaqui, dizem que é carnuda e saborosa. Açaí, acerola, pitomba e maracujá entram no cardápio em bebidas e sobremesas.
            Uma das estrelas do cardápio do navio é a mandioca. Está por toda a parte, de manhã no cuzcuz de tapioca e no almoço ou no jantar, a farinha grossa usada para o preparo de farofas que acompanham os pescados. O nome mandioca-brava se deve ao fato da raiz ser venenosa, mas não se preocupe, o veneno é “desativado” quando exposto a certas temperaturas e a mandioca pode ser seguramente no preparo de produtos como o beiju, tapioca, goma, tucupi e farinha.
            Vou assumir minha curiosidade em experimentar a comida dos ribeirinhos. Ingredientes que vão dá natureza para a mesa, brilhando de tão frescos. Preparações especiais, variedade, sabor. Nada de peixe congelado, frutas e legumes machucados e farofa de saquinho. Dá pra imaginar e ficar com água na boca e vontade de pegar o primeiro avião com destino a Manaus. E tem gente que ainda achando que é o peixe sem tempero que vai na lança mesmo pra fogueira...


Fontes de pesquisa: Wikipédia
Revista Menu, nº 158 ano 14 páginas 24 a 31



terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Made in Brasil


            O crescimento da gastronomia no Brasil é notável. Prova disso é o investimento na produção de ingredientes que nós costumávamos importar. Por exemplo o escargot. Um engenheiro agrônomo chamado Carlos Alberto Funcia demorou (11 anos), mas conseguiu reproduzir no Brasil, mais precisamente em Piracaia, no interior de São Paulo, o sabor do escargot parisiense. Funcia voltou da França deslumbrado com o sabor da iguaria e ao procurá-la para preparar a receita descobriu que só era vendido aqui o escargot em conserva. Ele estava certo de que havia mais pessoas querendo degustar os pequenos caracóis frescos e investiu na criação deles. Atualmente ele é dono da Heliz Escargots, empresa que produz três toneladas do molusco por mês e vende para restaurantes e supermercados em todo o estado de São Paulo. E pra você que esta com essa carinha de puro desdém questionando a qualidade do produto, saiba que os chefs aprovam não só pela qualidade, mas pelo frescor. Ingredientes frescos fazem toda a diferença!
            Os chefs de cozinha que atuam no Brasil citam entre os melhores fornecedores nacionais produtores de cogumelo, flor de sal, cordeiro e vitela, queijos de cabra... produtos característicos da cozinha européia produzidos aqui, no aconchego do lar.
            E o foie gras então? Eu sei, eu sei, é uma judiação engordar o fígado do bichinho, mas não vamos entrar nessa polemica. O assunto aqui é o que é produzido em território nacional e sim, o foie gras está na lista. A Villa Germânia, no Vale do Itajaí (SC) é uma das favoritas quando se trata dos diversos cortes de pato e para encantar os chefs se especializaram na elaboração do foie gras, aprendendo a melhor maneira de alimentar a ave para engordar seu fígado. Além de ser mais barato, tem o bônus de valorizar os ingredientes locais.
            Os profissionais da cozinha escolhem os fornecedores pela qualidade, o chef Raphael Despirite, do Marcel, em São Paulo, opta por usar cogumelos da Terras Altas e elogia o frescor e a rapidez com que o produto chega no restaurante, não é preciso esperar semanas pra ter bons ingredientes. Mogi das Cruzes também é uma terra de cogumelos de qualidade, cultivados por imigrantes japoneses e chineses. E são diversos tipos, paris, shimeji e shitake são os mais conhecidos, mas também tem pleurotus salmão, porto-belo, crimini, hiratake e eringui.
            O chef Villard, do Le Pré Catelan, tem trabalhado com queijos de cabra da Fazenda da Serra e escargots da Invernada, produtores da Serra Fluminense. Segundo ele, os melhores queijos franceses não chegam aqui e os nacionais os substituem muito bem. Queijos como chabichou, chevrotin, sainte maure, entre outros queijos de cabra europeus, são reproduzidos aqui (embora aqui no Brasil a legislação só permita o uso de leite pasteurizado, portanto esses queijos não têm o mesmo sabor dos elaborados com leite cru), alguns desenvolvidos com ajuda de chefs de cozinha.
            Depois de ver essa lista de produtores e ingredientes, e os chefs que os aprovam, não há como questionar o crescimento da gastronomia no nosso país. E embora seja só o começo, estamos indo com a corta toda!
           
Fonte de pesquisa: Revista Menu, nº 153 ano 12, páginas 44 a 54. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Ele mesmo, o Alex Atala.

            Como falar de gastronomia brasileira sem citar o Alex Atala? Pode olhar torto à vontade e dizer que é clichê. Mas o fato é que o Atala levanta nossa bandeira como ninguém. Ele apresenta orgulhosamente a gastronomia brasileira lá fora. Apresentou tucupi e farinhas da Amazônia para o Ferran Adrià, a pupunha para Londres e o pirarucu para Madri. Ele abrirá então, e com chave de ouro, o Guaranácafé.
            Menino precoce (e um tanto rebelde se você for ver), Alex Atala deixou a casa dos pais já aos quatorze anos e foi para São Paulo trabalhar como DJ. Aos dezoito foi para a Europa como mochileiro e trabalhou pintando paredes na Bélgica. Fez curso profissionalizante em gastronomia por sugestão de um amigo, e daí foi trabalhar em restaurantes na Bélgica, na França, na Itália. Além de aperfeiçoar os dotes culinários, aprendeu a falar inglês, francês e italiano.
            Voltou para o Brasil e continuou cozinhando. Trabalhou no restaurante Sushi Pasta, mas o sucesso veio ao dar uma repaginada no cardápio do extinto restaurante Filomena, onde criou uma entrada de alho assado e pratos de sucesso, como manga grelhada com pimenta branca e molho de maracujá. Ainda trabalhou no restaurante 72, antes de inaugurar o Namesa, em 1999, restaurante que ainda serve comidinhas rápidas na região dos Jardins.
            E finalmente inaugurou com dois sócios o D.O.M., que se tornou sucesso de público e crítica, conquistando diversos prêmios para si e, é claro, para o Chefe Atala. Em 1999 a Gula premiou Alex como chefe revelação e o D.O.M. como melhor restaurante. Em 2000 a Gula os premiou novamente, melhor chefe e melhor restaurante contemporâneo. E o reconhecimento não parou mais, o Guia Quatro Rodas concedeu classificação máxima (três estrelas) ao D.O.M. Seu sucesso não parou no Brasil, desde 2007 o restaurante vem escalando posições no ranking de melhores restaurantes do mundo eleitos pela San Pellegrino World’s 50 Best Restaurants. Pulou do 40º lugar em 2007 para o 24º em 2009. Em 2010 era o 18º lugar, e em 2011 chegou à 7º posição!
            Alex conquistou o mundo defendendo nossa culinária regional, combinando técnica e ingredientes nativos. Em 2009 abriu o restaurante Dalva e Dito que reafirma a marca do chef.
            E ainda somos obrigados a ouvir que Alex Atala é só mais um chefe da mídia. Que é exagero colocá-lo tanto no pedestal. Que eu me lembre aos quatorze anos eu ainda brincava no quintal, não estava saindo pra trabalhar. Ele também começou de baixo, também sofreu na mão de chefes demônios, digo, exigentes. E o rapaz ainda é poliglota e tem três livros publicados. Sua criatividade impulsionou sua carreira. Ou você acha que se pode ter um dos melhores restaurantes do mundo parado na cozinha esperando por câmeras, flashes e microfones? Se a gente puxa sardinha pra ele? Mas é claro que sim! Ele mostrou pra todo o mundo (inclusive pra nós, brasileiros) o valor da nossa gastronomia. E num currículo desses é impossível colocar defeito.  


Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alex_Atala
              http://boavidablog.blogspot.com/2010/09/alex-atala-e-gastronomia-brasileira-la.html
Imagem: http://boavidablog.blogspot.com/2012/01/chef-alex-atala-dalva-e-dito-renovado.html

Meu Brasil brasileiro...

É momento de acabar com o nosso complexo de gata borralheira. E não adianta colocar as mãos nos bolsos e fingir que você é uma exceção. Vai dizer que você nunca valorizou um produto de fora muito mais do que os produtos nativos brasileiros? Vai dizer que nunca invejou um pouquinho as trufas brancas de Alba, a mostarda Dijon, os chocolates dos belgas? Não desmerecendo tais produtos, mas não podemos chegar ao ponto de achar que até pop tart é iguaria, só por que veio de fora.
Verdade que a mostarda Dijon é mais saborosa que a nossa Arisco. Tudo bem, nós também não temos nenhuma trufa aqui se não as de chocolate. E pode ser que nosso chocolate esteja bem atrás do chocolate belga. Mas e quanto ao que nós temos que não se vê lá fora? Pequi? Cambuci? Licuri? Tantos sabores que só o Brasil tem, delicias que só o brasileiro conhece? Temos tantas culinárias regionais que é praticamente impossível conhecer todas e fica complicado saber que receitas simbolizam nosso país.
Nossa culinária vai muito além da feijoada, do acarajé e do pão de queijo. Temos nossos docinhos de leite condensado, caipirinha, polenta, bolo de mandioca. Temos três restaurantes brasileiros entre os cem melhores do mundo, incluindo o sétimo lugar para o D.O.M. A gastronomia brasileira está escalando cada vez mais.
Temos grandes chefes nos representando, e não estou falando apenas do Alex Atala (D.O.M, Dalva e Dito). Temos Mara Salles (Tordesilhas), Ana Luiza Trajano (Brasil a Gosto), Rodrigo Oliveira (Mocotó), Helena Rizzo (Maní). E se fossemos citar todos os chefs que nos representam bem, a lista não acabaria mais.
Fato é que somos afortunados e ainda não exploramos nem um terço do que há pra se explorar. Temos a cultura, os pratos, os ingredientes, os chefes, os restaurantes. 
Poderíamos, isso sim, nos espelhar no patriotismo dos gringos. Na paixão e na preferência deles pelo que é nativo. Valorizar mais o que temos em casa do que o que vem de fora. E nós não deixamos a desejar em nada, temos tanto potencial quanto eles. Quando o assunto é gastronomia, podemos sem dúvida nos orgulhar de ser brasileiros. E é disto o que falaremos aqui, no GuaranáCafé.